COP28: Países do G20 representam 73% do potencial de redução de emissões do setor de refrigeração
Tomar medidas fundamentais para reduzir o consumo de energia dos equipamentos de refrigeração reduziria pelo menos 60% das emissões setoriais previstas para 2050, daria acesso universal ao resfriamento que salva vidas, tiraria a pressão das redes de energia e economizaria trilhões de dólares até 2050, de acordo com um novo relatório publicado durante as negociações climáticas da COP28 em Dubai.
O relatório Mantendo a cabeça fria: Como atender à demanda de resfriamento e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões, da Coalizão Global para o Resfriamento liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), estabelece medidas sustentáveis em três áreas:
- Resfriamento passivo.
- Padrões mais altos de eficiência energética.
- Redução mais rápida das substâncias refrigerantes que aquecem o clima.
Implementar as medidas descritas nessas áreas resultaria em redução de 60% das emissões do setor. A rápida descarbonização da rede elétrica reduziria as emissões setoriais em 96%.
O relatório foi divulgado em apoio ao Compromisso Global de Resfriamento (Global Cooling Pledge), uma iniciativa conjunta entre a Coalizão para o Resfriamento e os Emirados Árabes Unidos como anfitriões da COP28. Hoje, mais de 60 países assinaram o compromisso com a promessa de reduzir o impacto climático do setor de refrigeração.
"Os países e o setor de refrigeração devem agir agora para garantir o crescimento da refrigeração com baixo teor de carbono. Felizmente, as soluções estão disponíveis hoje. A adoção de um sistema de refrigeração sustentável e eficiente em termos de energia oferece uma oportunidade de reduzir o aquecimento global, melhorar a vida de centenas de milhões de pessoas e obter enormes economias financeira" - Inger Andersen, diretora executiva do PNUMA, 5 de dezembro de 2023.
"O setor de refrigeração deve crescer para proteger todas as pessoas do aumento das temperaturas, manter a qualidade e a segurança dos alimentos, manter as vacinas estáveis e as economias produtivas. Mas esse crescimento não deve ocorrer às custas da transição energética e de impactos climáticos mais intensos", explicou a chefe do PNUMA durante o evento de lançamento do relatório em Dubai.
"Com o aumento das temperaturas, é fundamental que trabalhemos juntos para melhorar a eficiência energética e reduzir as emissões do setor de refrigeração e, ao mesmo tempo, aumentar o acesso à refrigeração sustentável. Esse acesso é especialmente importante para as comunidades mais vulneráveis, que geralmente são as que menos contribuem para a mudança climática, mas são as mais expostas a seus impactos" - Sultan Al Jaber, presidente da COP28, 5 de dezembro de 2023.
Crescimento rápido e insustentável no resfriamento
A mudança climática, o crescimento populacional e de renda e a urbanização estão aumentando a demanda de resfriamento, o que é necessário para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Cerca de 1,2 bilhão de pessoas na África e na Ásia não têm acesso a serviços de resfriamento, colocando vidas em risco devido ao calor extremo, reduzindo a renda dos agricultores, impulsionando a perda e o desperdício de alimentos e dificultando o acesso universal às vacinas.
"Com o aumento das temperaturas, é fundamental que trabalhemos juntos para melhorar a eficiência energética e reduzir as emissões do setor de refrigeração e, ao mesmo tempo, aumentar o acesso à refrigeração sustentável. Esse acesso é especialmente importante para as comunidades mais vulneráveis, que geralmente são as que menos contribuem para a mudança climática, mas que estão mais expostas a seus impactos", acrescentou Inger Andersen.
De acordo com as tendências atuais de crescimento, os equipamentos de refrigeração representam 20% do consumo total de eletricidade atualmente, e espera-se que esta taxa mais do que dobre até 2050.
As emissões de gases de efeito estufa do consumo de energia aumentarão, juntamente com o vazamento de gases refrigerantes, a maioria dos quais tem um potencial de aquecimento global muito maior do que o dióxido de carbono.
Em um cenário de manutenção do status quo, prevê-se que as emissões provenientes da refrigeração serão responsáveis por mais de 10% das emissões globais em 2050.
O aumento da demanda por equipamentos baratos, porém ineficientes, incluindo aparelhos de ar-condicionado e geladeiras, exigirá grandes investimentos em infraestrutura de geração e distribuição de eletricidade. Equipamentos ineficientes também resultarão em altas contas de energia para os usuários finais, particularmente na África e no Sul da Ásia, onde o crescimento mais rápido é previsto.
"O setor privado tem um grande papel a desempenhar no financiamento e na promoção da inovação para promover o resfriamento sustentável, o que pode ajudar a atender às necessidades vitais de desenvolvimento local e apoiar as metas globais de redução de carbono. Temos o prazer de contribuir com o relatório e de apoiar o Compromisso de Global de Resfriamento" - Makhtar Diop, diretor da Corporação Financeira Internacional (IFC), 5 de dezembro de 2023.
Benefícios para o clima, para a saúde humana e para a prosperidade
Seguir as recomendações do relatório poderia reduzir as emissões do setor de refrigeração normal projetadas para 2050 em mais de 60% – cerca de 3,8 bilhões de toneladas de CO2e.
As medidas poderiam:
- Permitir que mais de 3,5 bilhões de pessoas se beneficiem de geladeiras, aparelhos de ar-condicionado ou refrigeração passiva até 2050.
- Reduzir as contas de energia dos usuários finais em US$ 1 trilhão em 2050 e em US$ 17 trilhões cumulativamente entre 2022 e 2050.
- Reduzir a necessidade da potência de pico entre 1,5 e 2 terawatts (TW), quase o dobro da capacidade total de geração da União Europeia atualmente.
- Evitar investimentos em geração de energia da ordem de US$ 4 a US$ 5 trilhões.
A rápida descarbonização da rede elétrica reduziria as emissões setoriais em 96%. Os países do G20 representam 73% do potencial de redução de emissões para 2050.
O relatório descreve as principais ações a serem tomadas em estratégias de resfriamento passivo, padrões mais elevados de eficiência energética e uma redução mais rápida dos gases refrigerantes hidrofluorcarbonetos (HFC) por meio da Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal.
Em 2022, mais de 80% dos países tinham pelo menos um instrumento regulatório em vigor nessas áreas, mas a implementação continua inadequada. Apenas 30% dos países possuem regulamentação que permite a ação nas três frentes.
Medidas de resfriamento passivo
Medidas de resfriamento passivo, como isolamento, sombreamento natural, ventilação e superfícies refletivas, podem reduzir drasticamente as cargas de resfriamento. Essas podem ser fornecidas, em parte, pelo desenvolvimento e aplicação de códigos de energia de construção que incorporam refrigeração passiva e design urbano.
Tais estratégias podem conter o crescimento da demanda por capacidade de resfriamento em 2050 em 24%, resultar em uma economia de custos de capital em novos equipamentos de resfriamento evitados de até US$ 3 trilhões e reduzir as emissões em 1,3 bilhão de toneladas de CO2e.
Padrões mais elevados de eficiência
Padrões de eficiência mais elevados e melhor rotulagem de todos os equipamentos de refrigeração triplicariam a eficiência média global dos equipamentos de refrigeração em 2050 em relação aos níveis atuais, proporcionando 30% de economia de energia modelada, reduzindo as contas de energia e melhorando a resiliência e a viabilidade financeira da cadeia de frio.
As políticas de execução críticas incluem os Padrões Mínimos de Desempenho Energético (MEPS, na sigla em inglês) regularmente atualizados, instrumentos financeiros para incentivar a procura de produtos de maior eficiência e regulamentos para evitar o despejo de equipamentos de refrigeração de baixa eficiência nos países em desenvolvimento.
Emenda de Kigali
O mundo se comprometeu a reduzir gradualmente os HFCs por meio da Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, um acordo global projetado para proteger a camada de ozônio e desacelerar as mudança climática.
As emissões de HFC em 2050 podem ser reduzidas para metade ao longo do calendário de redução gradual de Kigali por meio da rápida adoção de melhores tecnologias em novos equipamentos e de uma melhor gestão dos refrigerantes, juntamente com o reforço da fiscalização nacional.
Ferramentas financeiras
A economia total de custos do ciclo de vida de US$ 22 trilhões (US$ 17 trilhões em economia de custos de energia e US$ 5 em investimentos em geração de energia) tornará acessível a transição para a refrigeração sustentável.
Os modelos de negócios existentes precisam ser dimensionados para usar essas economias para reduzir os custos iniciais e tornar a transição acessível para todas as pessoas. As ferramentas financeiras disponíveis incluem:
- Financiamento na fatura, através do qual uma concessionária paga por uma atualização e recupera o custo por meio de contas de energia mensais.
- Mecanismos de compartilhamento de riscos.
- Investimentos públicos e privados.
- Hipotecas verdes.
- Incorporação de resfriamento sustentável em salvaguardas ESG para bancos multilaterais.
- Proteção de pequenos agricultores em economias em desenvolvimento com financiamento de sementes.
Para muitos países em desenvolvimento, serão necessários financiamentos concessionais específicos.
Da ONU Brasil (05/12/2023)