IBGE faz raio-x do consumo e da condição de vida da população

Em busca de uma análise profunda sobre o consumo, a alimentação e a qualidade de vida dos brasileiros, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) está em campo desde junho do ano passado para coletar dados de cerca de 75 mil domicílios espalhados por aproximadamente 1.900 municípios, nas 27 unidades da federação do Brasil. No total, mais de mil pessoas estão envolvidas na operação, a primeira no IBGE a usar tablets para o preenchimento de questionários.

O levantamento é um dos mais extensos e detalhados do IBGE, com sete questionários, embora nem todos sejam aplicados em todos os domicílios visitados. Até pela quantidade de informações solicitadas, um dos principais trabalhos dos agentes de pesquisa é o de conquistar a confiança dos moradores.

“O levantamento sobre despesas e rendimentos é bem completo, por isso a família tem que comprar a ideia de que aquilo vai contribuir para o bem-estar dela no futuro”, explica o gerente da POF, André Martins, que lembra da opção para quem estiver em dúvida sobre a identidade do agente da pesquisa.

“No site do IBGE existe um espaço com as pesquisas que estão em campo em que você pode identificar os agentes através do SIAPE, nome ou CPF. Temos dito isso: se a pessoa se identificou como do IBGE, tem que ter crachá”, diz.

A coleta em cada domicílio costuma demorar nove dias, reunindo os mais detalhados dados sobre quanto as pessoas gastam, com o que gastam, do que se alimentam e até mesmo sobre qualidade de vida e insegurança alimentar (percepção em relação ao acesso aos alimentos), com informações que permitem traçar um retrato importante deste aspecto da realidade do brasileiro.

“A POF incorporou a escala de insegurança alimentar, que era aplicada na antiga PNAD. Essa também foi uma demanda dos pesquisadores, que querem relacionar as estatísticas de segurança alimentar com os números de rendimento. Isso cria um novo campo de análise”, explica André, sobre a adoção da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar na pesquisa.

Realizada novamente após nove anos, a POF agora integra o Sistema Integrado de Pesquisas Domiciliares (SIPD), do qual também fazem parte a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS).

Parâmetro para inflação e desenvolvimento sustentável

Além de trazer informações relevantes já em sua publicação, a POF tem impacto também no cálculo da inflação oficial (IPCA e INPC) e até mesmo nos índices produzidos por outras instituições, além de servir como base para o item Consumo das Famílias no Sistema de Contas Nacionais.

“Para podermos apurar como se comporta o custo de vida das famílias, precisamos saber o que elas estão consumindo, o que elas recebem e com o que elas gastam. Para apurarmos isso e termos uma cesta de produtos consumidos, precisamos da POF. A partir daí, conseguimos observar como se comportam esses preços no tempo”, explica o gerente do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), Fernando Gonçalves, que destaca também a necessidade de constante atualização desses dados. “Existem muitos produtos que saem de comercialização. Além disso, a importância relativa de alguns produtos pode mudar”, completa.

Uma das instituições que utilizam os dados da POF é a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que produz o IPC (Índice de Preços ao Consumidor).  “A gente utiliza amplamente a POF porque desde a última edição em 2009 temos acesso aos microdados pelo site do IBGE. Toda a família de indicadores de preços ao consumidor da FGV é atualizada pelas POF”, disse coordenador do IPC, André Braz.

A função estrutural da POF também pode ser observada na produção dos indicadores para os ODS da ONU. Seus dados serão utilizados em ao menos 10 das 17 metas que serão monitoradas com coordenação do IBGE no Brasil.

“Os ODS precisam das informações da POF para responder a produção de indicadores, direta ou indiretamente”, ressalta André Martins. “A POF, assim como a PNAD Contínua, a PNS e a PNDS - as pesquisas integrantes do SIPD - são fundamentais para dar conta desses vários indicadores com os quais o Brasil se comprometeu nas Nações Unidas”, completa.

Condições de vida

O padrão de consumo das famílias apurado na POF também tem como utilidade a análise da qualidade de vida dos brasileiros, uma vez que as despesas também podem ser comparadas com os rendimentos por domicílio. “Esse levantamento é a análise mais profunda sobre pobreza e desigualdade que o IBGE faz”, ressalta a analista da pesquisa Isabel Cristina.

Além da relação entre consumo e rendimento, a POF traz um questionário subjetivo sobre o tema, em que as famílias podem dizer se consideram suas condições muito satisfatórias, satisfatórias ou ruins. A questão serve como termômetro para que se possa averiguar o elo entre orçamento, consumo e percepção de qualidade de vida.

Hábitos alimentares

Um dos sete questionários será aplicado em cerca de um terço dos domicílios, entre as pessoas de 10 anos ou mais, e tem fundamental importância. O perfil de consumo alimentar surgiu como demanda do Ministério da Saúde e registra tudo que cada um desses moradores ingeriu em dois dias inteiros, com um dia de intervalo entre eles.

“Esse método que usamos atualmente já está alinhado com o Global Diet, que estão começando a usar agora na Europa”, destaca André.  

Durante esses dias, o entrevistado anota todos os alimentos que ingeriu, assim como a quantidade. O resultado da colaboração vem em forma de conhecimento: ao saber como vive a população, estudiosos e governantes podem formular ou demandar políticas públicas mais adequadas à realidade do país.

“A POF é uma das pesquisas mais complexas e das que têm maior utilidade no país. Por que vale a pena? Pela gigantesca quantidade de informação que é disponibilizada e uso que ela tem depois”, resume o analista da POF Leonardo Oliveira.

 

Da Agência IBGE Notícias (19/3/2018)