[Entrevista] ODS 12: consumo e produção conscientes

Gestão e uso eficientes dos recursos naturais, redução do desperdício de alimentos, manejo responsável e redução da geração de resíduos químicos e sólidos, diminuição da emissão de poluentes, educação para o consumo sustentável, práticas sustentáveis em empresas e agenda ambiental na administração pública. Estas são algumas das metas para se reduzir a pegada ecológica sobre o meio ambiente e promover o desenvolvimento econômico e social sustentável. Confira abaixo a entrevista com o pesquisador do IBGE, José Sena, sobre esse amplo objetivo que envolve o setor produtivo, o cidadão e o governo.

Revista Retratos: Como o ODS 12 avalia a sustentabilidade na cadeia produtiva?

José Sena: O ODS 12 avalia como a sociedade está caminhando para atingir a sustentabilidade nos padrões de produção e consumo, no sentido das atividades econômicas. É um objetivo bastante amplo, que envolve várias áreas: tratados internacionais, licitações sustentáveis, desperdício de alimentos, perdas nas colheitas, gerenciamento de resíduos sólidos...

Retratos: Qual o papel do IBGE nesse ODS? 

José: O papel do IBGE, como órgão oficial de estatística, é mensurar estatisticamente como está esse caminho e como o Brasil está em relação ao mundo. 

Retratos: O que o IBGE já tem para isso?

José: A maioria dos indicadores propostos estão classificados como “Tier 3” (indicadores para os quais ainda não se tem uma metodologia firmada e a base de dados precisa ser construída). Cabe ao IBGE ver, junto com os organismos estatísticos internacionais, o que existe de novo e trazer para o Brasil. Ver quais instituições produzem esses dados e como estatisticamente podemos trabalhar com eles.

Retratos: Como se dá o apoio de outras instituições?

José: Esse apoio é fundamental. No caso de padrões de produção e consumo, algumas pesquisas econômicas do IBGE ajudam, mas muitas informações são provenientes de outras instituições. IBGE precisa harmonizar, ver de que forma que essas informações podem ser estatisticamente mensuradas, qual o padrão estatístico, a norma internacional, e implementar junto às outras instituições.

Retratos: Que indicadores estão sendo discutidos com outras instituições, por exemplo?

José: Um assunto que temos trabalhado muito é desperdício de alimentos, por exemplo. Isso ainda faz parte do “Tier 3”, mas estamos desenvolvendo. Temos reuniões com instituições brasileiras produtoras de alimentos, como a Embrapa, o Ministério do Desenvolvimento e também a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), e estamos estudando essa ampla base de informações para organizá-las estatisticamente.

Retratos: PIB verde e as contas ambientais também estão relacionados ao ODS 12?

José: Sim. Na meta 12.2, quando se fala: “atingir o uso eficiente dos recursos naturais”, temos alguns indicadores propostos sobre pegada material; muitos ainda estão em construção. As contas econômicas ambientais vão oferecer subsídios significativos para esses indicadores propostos de consumo material. Até que ponto a nossa produção econômica total demanda recursos naturais: isso vai ser uma resposta sobre que padrão o Brasil está acompanhando.

Retratos: Dentre as prioridades estabelecidas pelo ODS 12, estão a implementação da agenda ambiental na administração pública e compras públicas sustentáveis. O que significa isso?

José: O setor Governo, em todos os países do mundo, é muito importante como motor e alavanca na economia. Se o governo começa a ter padrões de consumo sustentáveis, no sentido de promover licitações sustentáveis, adquirir produtos ambientalmente mais responsáveis, ele dá o exemplo para a sociedade e para outras áreas da economia, e a partir daí incentiva a produção desses produtos.

Retratos: Quais são os principais desafios para esse ODS?

José: Organizar a informação. Temos uma base de informação ampla, só que está dispersa e sem a temporalidade necessária.

Retratos: E esse desafio é sentido apenas pelo Brasil ou outros países também esbarram nessa dificuldade?

José:  É um desafio que existe em escala global. O desafio de uniformização de dados dispersos é enfrentado por todos os países que estão nessa missão.

 

Da Revista Retratos (1/1/2018)