No Rio de Janeiro, agências da ONU debatem crise alimentar e fome
Na quarta-feira (22), as representações no Brasil da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Programa Mundial de Alimentos (WFP), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Pacto Global da ONU, fizeram parte do painel “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e Segurança Alimentar”, onde debateram a importância de trabalhar para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável; e o ODS 17 – Parcerias e meios de implementação.
A atividade aconteceu no Rio de Janeiro, durante o Encontro Nacional contra a Fome, organizado pela Ação da Cidadania em parceria com 20 entidades e movimentos representativos na luta contra a fome e as desigualdades no país.
Segundo a FAO, entre 2016 e 2021, em todo o mundo, a população em crise de fome aumentou por volta de 80%, dando um salto de 108 milhões para 193 milhões de pessoas. Os choques econômicos são responsáveis por 30,2 milhões de pessoas com fome em 21 países (16% do total), e o número de países afetados por choques econômicos quase triplicou entre 2019 e 2021, devido aos impactos adversos da pandemia de COVID-19 nos meios de subsistência, rendimentos e preços dos alimentos. Já os conflitos armados representam a causa de insegurança alimentar para 139,1 milhões de pessoas.
“Existem quatro causas possíveis por trás da fome. A primeira e a mais forte é o conflito armado. Depois o choque econômico, choques climáticos, e choques sanitários, como epidemias e pragas. Hoje, estamos vivendo uma tempestade perfeita, porque estão acontecendo as quatro causas ao mesmo tempo, de diferentes maneiras, em diferentes regiões”, destacou o representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala.
Já o diretor do Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP) no Brasil, Daniel Balaban, destacou que no mundo, atualmente, o WFP atende diversas pessoas em situações de conflito, situações climáticas adversas, entre outras situações que agravam a fome, mas infelizmente, o trabalho não é o suficiente.
Outro fator levantado pelo diretor como agravante da fome no planeta foram as guerras e conflitos armados, que, de acordo com o Instituto Estocolmo para a Paz Mundial (SIPRI), consumiram 2,2% do PIB mundial em 2021, o que representa aproximadamente dois trilhões de dólares. O valor equivale a cerca de 40 vezes o orçamento anual do WFP para levar assistência alimentar a mais de 120 países.
“O mundo tem capacidade de acabar com a pobreza. Se hoje todos os governantes do mundo fizessem um pacto de pegar 10% do dinheiro que é gasto com armas, bombas e mísseis, para construir, para dar cidadania, para fazer investimentos em políticas públicas, para ajudar crianças, investir em educação, quem sabe não teríamos mais conflitos no mundo, pois os conflitos estão relacionados com guerras, pobreza e fome”, explicou o diretor do WFP.
Em sua apresentação durante o painel, o UNICEF destacou que um dos caminhos estratégicos para acabar com a fome no mundo é apostar na primeira infância. Uma criança que tenha garantido seu desenvolvimento físico, psíquico e emocional é uma criança que vai atingir o seu desenvolvimento pleno, e um cidadão ou cidadã que tem seu direito pleno garantido certamente é quem vai quebrar o ciclo da pobreza.
Vulneráveis - O estudo “Alimentação na primeira Infância”, publicado pelo UNICEF em 2021, entrevistou 1.343 cuidadores de 1.647 crianças menores de seis anos, apoiadas pelo Bolsa Família em 21 estados brasileiros. Os resultados mostraram que 80% das crianças consumiram ultraprocessados no dia anterior à pesquisa, e que 72% das pessoas entrevistadas afirmaram que alguma criança deixou de fazer alguma refeição.
“Existe um deserto alimentar próximo as casas e domicílios das famílias mais vulneráveis, não só nos centros urbanos, mas incluindo zonas rurais, populações indígenas, ribeirinhas, quilombolas”, explicou a coordenadora do território sudeste e chefe do escritório do Rio de Janeiro do UNICEF, Luciana Phebo. “O que nós queremos é que nenhuma criança ou adolescente seja deixado para trás e que a Agenda 2030 seja um farol, mas que esse caminho é agora, é hoje, tem que acontecer”, completou.
ODS - Alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) só será possível se todos os agentes envolvidos no setor agroalimentar cumprirem seu papel, e o Pacto Global nasce no início dos anos 2000, justamente com o objetivo de reforçar a importância do engajamento o setor privado e das empresas nessa agenda.
A gerente sênior de Direitos Humanos e Gênero do Pacto Global da ONU no Brasil, Tayná Leite, considera que as empresas têm uma função estratégica na defesa e na implementação dos direitos humanos. “Temos um mapa bastante claro do que precisamos fazer, sabemos o que precisamos fazer, mas precisamos efetivamente agir. Precisamos que as empresas e suas lideranças entendam que não temos um planeta B, que não temos outra solução”.
O Movimento Salário Digno, uma iniciativa do Pacto Global com a ONU Mulheres, pretende garantir 100% de salário digno para todos os funcionários e funcionárias, trazendo para as famílias não só a garantia da alimentação de qualidade, mas também de diversos outros direitos essenciais como saúde, moradia, lazer e qualidade de vida. No Brasil, até o momento, mais de 10 empresas privadas assinaram esse compromisso com o Pacto Global.
Da ONU Brasil (24/06/22)